quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Recôncavo: chão para uma nova Diocese

Decorridos trinta anos, um antigo sonho do povo do Recôncavo está prestes a se concretizar, com a ereção da sua Igreja Particular, com sede em Cruz das Almas. Esta reivindicação é de extrema importância, pois a região do Recôncavo Baiano precisa, com urgência, de uma atenção específica e da presença de um Bispo local, já que somos uma micro-região formada por cidades que possuem relevância histórica e de novos núcleos urbanos, constituindo uma organização sócio-espacial com características bem específicas e independentes da capital.
A riqueza cultural, artística, arquitetônica e natural é o maior patrimônio desta porção do povo de Deus que aqui vive e que necessita de um maior acompanhamento pastoral e sistemática ação evangelizadora, sobretudo, aqueles que procuram a Igreja em busca do anúncio, dos sacramentos e da promoção humana, em sua fome de conhecer e de seguir a Jesus Cristo. A ereção da Diocese do Recôncavo trará ainda muitos outros benefícios como: uma Igreja Particular com menor território, que facilitará o planejamento e atuação pastoral, descentralizando a formação e atualização dos agentes pastorais; a valorização da diversidade dos ministérios, carismas e serviços, conforme o Espírito suscita; e a custódia, gestão e conservação do patrimônio cultural da Igreja, considerando que a arte sacra e arquitetura religiosa compõem um patrimônio de valor incalculável na Igreja do Recôncavo.
A ideia da nova Diocese já foi abraçada pelos gestores da região, que se comprometeram em colaborar no processo de estruturação da Igreja Particular do Recôncavo. Para o Mons. Walter Jorge de Andrade, pároco de Santo Amaro, a Igreja não busca, com a constituição da nova Diocese, o seu próprio bem, mas o bem comum e que tal acontecimento beneficiará todo o povo. Aqui no Recôncavo, vive-se com grande propriedade e desenvoltura a presença de Deus no meio do povo, não somente por causa do sincretismo religioso tão presente nessas terras, mas, devido à elevada posição da tradição católica adquirida ao longo do tempo entre o povo singular destes municípios.


Segundo o prefeito de Cruz das Almas, Orlando Peixoto, depois de 30 anos de lutas, a instalação da Diocese do Recôncavo é significativa não só para as comunidades católicas, mas pro povo da região por conta da dinâmica que uma instituição como a diocese promoverá nas nossas cidades. .
A nova Diocese certamente será um grande marco para todo o povo do Recôncavo e contribuirá de forma decisiva para o processo de descentralização das atividades pastorais e a evangelização das pessoas que vivem aqui. A padroeira da Diocese do Recôncavo será Nossa Senhora do Bom Sucesso, titular da cidade de Cruz das Almas, e é justamente a passagem bíblica que dá à Mãe de Deus esse título, que será o lema da Diocese: “Luz para iluminar as nações” (Lc 2, 32).
O povo do Recôncavo tem volume de fé, história e cultura para servir de assento para uma nova Diocese, que venha cuidar melhor e de forma mais próxima do rico patrimônio que possuímos e dos desafios que o futuro nos aponta. A Igreja no século XXI precisa responder aos anseios das novas gerações, com o fervor do novo e os valores recebidos ao longo do tempo. A nova Diocese deve, portanto, ser sinal de cooperação entre o seu pastor e o presbitério a ele confiado, que alimentados pela palavra e pela eucaristia constituem, sob as bênçãos da Virgem do Bom Sucesso, uma Igreja particular, na qual está verdadeiramente viva e operante a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O segredo da caixa madrepérola

Clovis de Alencar era um jovem veterinário do Rio de Janeiro, um dos mais renomados e famosos inclusive. Aos quarenta anos de idade permanecia solteiro. Era um verdadeiro garanhão e por onde passava arrancava suspiros das mulheres.
Filho de um famoso casal de músicos portugueses, Clovis veio para o Brasil ainda bem pequeno junto som sua família. Na capital fluminense cresceu, estudou e se tornou uma dos mais conhecidos veterinários, tratando dos animais de estimação das principais famílias cariocas. Amante dos esportes e da boa forma, o veterinário passava várias horas do dia exercitando-se na sala de ginástica de sua mansão na Barra da Tijuca. Clovis era acostumado a ter a seus pés as mais belas mulheres e por isso afirmava sempre o desejo de não casar-se, queria apenas aproveitar a vida.
Numa de suas aventuras noturnas nas boates cariocas, Clovis conheceu a bela Lílian Pereira e encantou-se coma jovem morena de madeixas longas e pretas e olhos esverdeados. Juntos dançaram bastante e encerraram aquela noite num motel da Zona Sul. Depois daquele dia Clovis não pensou mais como antes: pela primeira vez na vida acreditava estar apaixonado por uma mulher.
Lílian sentia-se envolvida e também encantada com o veterinário quarentão, porém existia algo que lhe angustiava: era casada e estava muito confusa em relação ao seu casamento. Seu esposo, Alberto, era um bom homem e excelente companheiro, no entanto o Dr. Clovis mexia com o seu coração.
Todos os bilhetes e cartões que Clovis lhe enviava eram guardados com muito carinho numa pequena caixa de madrepérola que ela tanto gostava. Tal caixa passou a ser guardada com muito cuidado por causa do ciumento marido de Lílian. Todas as vezes que Alberto a encontrava com a caixa na mão ela corria para guardá-la e ele já estava curioso em relação ao que ela escondia na pequenina caixa.
A cada novo encontro Clovis e Lílian se encantavam e se envolviam mais e mais: estavam realmente apaixonados. Lílian se enchia de angústia a cada vez que retornava à sua casa e reencontrava o seu marido. Ele por sua vez percebia nos olhos da esposa que ela estava escondendo algo, e tal segredo estava guardado na caixa de madrepérola. Alberto passou a observar onde e como Lílian escondia a pequena caixa.
Depois de muito observar, Alberto acabou descobrindo onde a caixa era escondida. Pegou-a e ao abrir se desesperou quando descobriu o segredo que a caixa de madrepérola guardava. A noticia da traição deixou Alberto desorientado e desesperado, fazendo-o buscar na bebida o consolo para a traição. Após beber durante todo o dia, o pobre Alberto retornou para sua casa bastante enraivado e com um só desejo: acabar com a vida de Lílian.
Naquele mesmo dia Clovis resolveu fazer uma surpresa a Lílian e foi visitá-la. Após conversarem e trocarem beijos apaixonados acabaram indo para a cama e transaram loucamente, mal sabendo Lílian que seu esposo estava enfurecido e a caminho de casa. Ao chegar a casa, Alberto percebeu que Lílian estava acompanhada e se enfureceu ainda mais. Ao abrir a porta do quarto se deparou com a esposa e o amante aos beijos em sua cama e diante da cena não pensou e disparou três tiros na direção da esposa. O pior aconteceu: os tiros acertaram em cheio o coração de Lílian e os levaram à morte.
Espantado e assustado com a situação, Clovis partiu para cima de Alberto que ficou paralisado após os disparos. Cheio de raiva bastante enfurecido o veterinário esmurrou Alberto e depois de muito brigarem conseguiu tomar-lhe o revolver.
Diante da mulher morta, Clovis extremamente emocionado e apaixonado se debruçou sobre ela e após algumas juras de amor, apertou com força a mão de Lílian e enquanto o relógio marcava 18 horas, suicidou-se. Triste fim, não fosse a paixão que existia entre Clovis e Lílian. Os dois separaram-se pela morte, mas esta mesma morte desencadeada pela descoberta do segredo da caixa de madrepérola os uniu eternamente.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Porque ler Batismo de Sangue...

No inicio da década de 1960, a Igreja Católica passou por profundas mudanças, que foram desencadeadas pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, convocado pelo então Papa João XXIII. O processo de “renovação” da Igreja levou muitos militantes cristãos a atuarem diretamente nos movimentos sociais. No Brasil esse processo foi vivido de forma bastante intensa, principalmente a partir das ações de Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga e dos frades dominicanos.
O envolvimento dos frades dominicanos com grupos de esquerda e a luta destes no período de repressão política no Brasil, fruto do golpe de 1964, são alguns dos temas abordados pelo livro Batismo de Sangue, de Frei Betto. Carlos Alberto Libânio Christo nasceu em 1944 em Minas Gerais e no final dos anos 1950 ingressou na Ordem Dominicana. Adepto da Teologia da Libertação, Frei Betto viveu intensamente o processo de resistência à ditadura, o qual relatou nesse livro que foi publicado originalmente em 1982 e já foi traduzido na para o francês e o italiano.
O autor descreve na referida obra, o retrato do líder de um dos principais grupos de resistência armada, que foi Carlos Marighella, bem como as lutas travadas durante o regime ditatorial brasileiro. Em “Batismo de Sangue, não há uma ordem cronológica dos capítulos, já que estes, abordam, a partir do olhar de Frei Betto, diferentes aspectos desse processo vivenciado no Brasil por mais de duas décadas. O livro é dividido em seis capítulos que são intitulados respectivamente como: Carlos o itinerário; Sul a travessia; Prisão o labirinto; Morte, a cilada e Tito, a paixão. No primeiro capitulo do livro, Betto apresenta e analisa a trajetória de vida do líder revolucionário baiano Marighella, desde o seu nascimento em 1911 até a sua saída do PCB (Partido Comunista Brasileiro) em 1968 e a conseqüente constituição da ALN (Ação Libertadora Nacional).
Carlos Marighella acreditava que a única forma de se combater diretamente a Ditadura seria através da luta armada. Por esse motivo foi expulso do PCB e posteriormente fundou a ALN, que propunha, além de derrubar a ditadura militar, formar um governo revolucionário, expulsar do país os norte-americanos, expropriar os latifundiários, bem como outras medidas de caráter revolucionário e socialista. O líder baiano sempre afirmava que “o segredo da vitória é o povo”, e por causa dos vários seqüestros, assaltos e ações armadas, por ele lideradas, tornou-se um dos principais alvos dos militares brasileiros.
Os frades dominicanos brasileiros davam à ALN de Marighella apoio logístico, principalmente no tocante à acolhida dos militantes em locais seguros e o transporte desses de uma cidade para outra. Tal apoio era de fundamental importância para a sobrevivência do movimento guerrilheiro, principalmente em se tratando de uma instituição ligada à Igreja Católica, que era, naquela época, uma das poucas que não sofriam intervenções do Governo Militar.
Frei Betto narra no segundo capítulo da obra como deu esse apoio aos militantes revolucionários no período em que esteve no Rio Grande do Sul, preparando-se para o exílio na Alemanha. Durante sua estadia no Seminário Cristo Rei, Betto descreve a experiência de ter contribuído com a passagem de vários refugiados pelas fronteiras no Sul do país, como é o caso de personagens importantes da resistência a exemplo de Joaquim Câmara Ferreira e do jornalista Franklin Martins.
A obra de Frei Betto - que conquistou o Prêmio Jabuti de melhor livro de memórias em 1982 - consegue descrever de forma bem minuciosa, vários aspectos da vida de Marighella, bem como a participação dos frades nos episódios que envolveram a morte do líder revolucionário no dia 4 de novembro de 1969. O assassinato de um dos mais perigosos terroristas brasileiros, como a Ditadura classificava Marighella, fora planejado de modo a não apenas eliminar o maior inimigo do regime militar, mas também jogar a esquerda contra os frades dominicanos, enfraquecendo a oposição à ditadura.
Da noite pro dia os dominicanos passaram de colaboradores da guerrilha a inimigos e traidores dessa. Frei Betto discorre no quarto capitulo do livro, intitulado “Morte, a cilada”, sobre a forma como os militares conseguiram arrancar dos freis Fernando e Ivo, informações que os levaram a Carlos Marighella. Depois de duras torturas lideradas pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, os dois frades presos, em pleno aniquilamento físico e psíquico, confessaram de que forma se encontravam com Marighella. Betto aborda de forma bem detalhista o processo de torturas à que os frei foram acometidos, fato que torna o capítulo emocionante e ao mesmo tempo bastante revoltante.
Vale ressaltar, que o livro homônimo de Frei Betto, deu origem em 2006 a um filme com mesmo título. O longa-metragem foi idealizado e dirigido por Helvécio Ratton - que também militou nos movimentos de oposição à Ditadura - e se aproxima do livro, já que, consegue reportar de forma bem similar, através de cenas emocionantes e bem elaboradas, todo o conteúdo existente na obra de Frei Betto. O filme só distancia-se do livro por dar um maior enfoque aos frades dominicanos, não apresentando da forma descrita por Frei Betto a trajetória de Marighella.
Em “Batismo de Sangue”, Betto, aborda ainda, o período em que viveu na clandestinidade, bem como a sua prisão e transferência para São Paulo, onde reencontrou seus confrades Ivo, Fernando e Tito. Um dos mais comoventes trechos do livro se passa nas celas subterrâneas do DEOPS (Departamento Estadual de Ordem e Política Social), quando Betto e os demais frades presos, celebram uma missa. O autor descreve de maneira emocionada, a experiência de ter partilhado a fé cristã com tantos presos políticos que eram comunistas. Frei Betto diz que todos ali reunidos rezaram e celebraram a eucaristia, comungando remidos pelo “batismo de sangue”. Daí o título do livro, que faz essa relação entre a fé e a sua prática através da vivência encarnada do Evangelho.
Frei Betto narra no livro, dentre outras coisas, a experiência de ter convivido durante mais de um ano com diferentes presos políticos, no Presídio Tiradentes em São Paulo, onde eram realizadas inúmeras discussões e atividades por parte desses. Durante a prisão no “Tiradentes”, Betto e os demais dominicanos sofreram os horrores da tortura, mas permaneceram firmes na luta por justiça e igualdade. A experiência de ter sido preso é encarada por Betto como um processo de aprendizagem e por isso sempre afirmava que nem mesmo a prisão conseguiria lhe arrancar a liberdade. Na obra encontra-se também o dossiê completo sobre Frei Tito de Alencar Lima, que se tornou símbolo internacional daqueles que lutaram contra a ditadura. Frei Tito nasceu no Ceará e ingressou na Ordem Dominicana no início da década de 1960. Sua sensibilidade notável lhe conferiu um maior sofrimento por causa das torturas, principalmente as psicológicas, que lhes deixaram marcas irreversíveis.
Tito é descrito por seu companheiro Betto, como um apaixonado pela vida e pela luta social e por esse motivo, não se intimidou nem mesmo com as duras torturas sofridas, que aparecem no livro de forma chocante. Frei Tito foi um dos presos políticos que tiveram a liberdade em troca do cônsul da Suíça, que fora seqüestrado por grupos de esquerda no Rio de Janeiro. Após ser solto Tito é exilado primeiro no Chile e posteriormente na França, onde vive os últimos dias de sua vida. As duras lembranças das sessões de torturas no Presídio Tiradentes e o conseqüente desequilíbrio psíquico o levaram ao suicídio em agosto de 1974.
Há ainda no livro, referências a fatos políticos que envolveram a esquerda durante a Ditadura, como o Congresso da UNE, em 1968, em Ibiúna (SP), do qual Frei Tito participou diretamente; e os seqüestros, do embaixador norte-americano, no Rio de Janeiro e do cônsul suíço, em São Paulo. O duro período vivido no Brasil durante a Ditadura Militar deixou em milhões de brasileiros, marcas que jamais serão esquecidas e no livro Batismo de Sangue o autor deixa bem evidente de que forma esse processo ocorreu.
Para entender o livro é preciso reportar-se a esse longo período, quando proliferaram as lutas guerrilheiras, inspiradas tanto nas revoluções cubana e chinesa, quanto no exemplo do Vietnã, e cujos participantes foram banhados em sangue. Em alguns países, como a Argentina e a Guatemala, houve uma verdadeira guerra de extermínio, com dezenas de milhares de mortos ou desaparecidos. Enquanto isso as empresas multinacionais tiveram lucros gigantescos. Não foi à toa que os EUA foram determinantes na implantação das ditaduras e, posteriormente, no treinamento de militares para a ação repressiva.
A trajetória de luta dos frades dominicanos e a sua ligação com a ALN foi, inclusive, combatida pelos setores conservadores da Igreja e esse aspecto é abordado por Betto quando ele descreve a visita do então cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Agnello Rossi, que, avisado da prisão dos frades, preocupou-se apenas em saber se tinham sido presos celebrando missa. Esse trecho revela uma total falta de compromisso de quadros da Igreja com os frades e com a luta contra a ditadura, caracterizando até uma certa conivência com os militares.
Frei Betto e os companheiros dominicanos estão, sem sombra de dúvidas, entre os brasileiros que mais sofreram nesses anos de ferrenha opressão e “Batismo de Sangue” revela a firmeza e determinação dos frades em combater a ditadura, animados pelo desejo de “passar da palavra ao gesto”, de praticar os ensinamentos de Cristo acima de receios ou de conveniências pessoais, e a entrega desses à causa da emancipação democrática de nosso povo.
A obra de Frei Betto é fascinante a apaixona quem lê. O autor a todo o tempo evoca a liberdade e um dos importantes aspectos do livro é a denúncia dos métodos de tortura utilizados durante a ditadura. Os relatos de Betto são um verdadeiro testemunho de um homem que viveu e sentiu na pele os horrores do período de “escuridão” que o nosso país viveu entre as décadas de 1960 e 1980. Toda a obra é um grito de revolta contra o instinto destruidor do homem contra o homem. Frei Betto clama por paz, amor, direitos iguais e uma vida com dignidade.
Dessa maneira, o livro consegue emocionar e ao memso tempo suscitar a revolta, por conta das atrocidades que nele são narradas. É importante conhecer a obra e através dela descobrir a fascinante historia desses brasileiros que foram “batizados por sangue” e doaram a vida por uma causa: a luta pela emancipação democrática de nosso povo.
Betto e seus companheiros dominicanos, assim como Marighella e tantos outros militantes revolucionários, viveram e lutaram contra a repressão e as atrocidades por ela cometidas e nos deixam um grande legado: a convicção de que todo e qualquer indivíduo é agente transformador da história. Portanto, deve-se compreender que “Batismo de Sangue” é um verdadeiro manual para aqueles, que, a exemplo desse grandes heróis da pátria, acreditam na possibilidade de construção de uma sociedade mais justa, fraterna e onde a liberdade seja vivenciada em plenitude.

domingo, 20 de setembro de 2009

VOCAÇÃO?


Vejam essa entrevista abaixo publicada na Revista Veja:

Deve ser por isso que temos hoje tantos jornalistas ruins e extremamente despreparados para o exercício da profissão!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Jornalista porque?

Tárcio Mota
Ser jornalista no Brasil não é fácil, sobretudo depois da decisão do STF que permite o exercício da profissão sem a exigência do diploma. Eu sei que com o crescimento das novas mídias eletrônicas ninguém mais precisa ter diploma nem emprego para ser "jornalista", pois cada um pode fazer seu próprio jornal na internet, mas ainda assim sou contra a decisão dos ministros. (faremos essa discussão outra hora). Muitos dos que se decidem pela carreira jornalística o fazem pensando no possível status e nos holofotes das grandes empresas de comunicação do país. Ao chegarmos na faculdade nos deparamos com uma realidade bem diferente daquela imaginada e o velho sonho de aparecer na tela da TV Globo ou de ter uma coluna na Folha ou Veja acaba perdendo força. São incontáves as dificuldades enfrentadas ao longo do processo de formação na área de Jornalismo, ainda mais em se tratando de universidades públicas. No mercado de trabalho as dificuldades aumentam por conta dos baixos salários, desvalorização da classe e a dificuldade que temos de nos organizar enquanto categoria.
Não se assustem os aspirantes ao Jornalismo! Afirmo isso por ter uma convicção: jornalista não se faz, apenas, jornalista se é! Independente de todas os problemas que enfrentamos ao longo dessa árdua caminhada não dá pra comprar o sentimento de ser jornalista.
Gosto muito de uma definição do jornalista Claudio Abramo, que utilizei inclusive, no perfil deste nosso blog e que afirma: "Jornalismo é antes de tudo e sobretudo, o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter". Assim como Abramo muitos outros teóricos procuram definir o jornalismo, mas apesar disso cada indivíduo vai chegar ao seu próprio conceito levando em conta sua relação com seus conhecimentos de mundo, com o outro e as suas experiências. Concordo com Abramo, e nessa minha ainda pequena, mas valorosa trajetória , pude descobrir na prática aquilo que ele nos diz, já que o jornalismo deve ser um espaço de construção da cidadania, onde os direitos e deveres dos indivíduos devem ser respeitados e defendidos.
Diante disso entendo que ser jornalista implica a busca por uma formação acadêmica e humana onde o respeito ao outro e ao mundo em que se vive devem está presentes; ser jornalista também implica noites perdidas e várias leituras, mas não só de livros, leituras do mundo e das pessias que nos cercam. Ser jornalista também requer de nós indignação, inquietação e esperança (não só de melhores salários). Ser jornalista é um desafio, não só por conta das dificuldades que enumerei, mas pela responsabilidade que temos perante a sociedade em que se vive. Sou sonhador, tenho minhas convicções, e a prática na universidade tem aumentado ainda mais essa paixão pelo jornalismo e por toda essa complexidade inerente à profissão. Hoje tenho uma única certeza: ser jornalista vale a pena e cabe a nós a missão de vivermos o outro mundo possível e cada vez mais necessário.